Cinderella
Capítulo III
Teresa Pereira, 2004-03-29 17:10 [#193]
Publicado em 2004-03-30 20:04 por Jorge Nuno Silva
Tópicos: Palma Fernandes

Trabalho realizado por Teresa Pereira, Fernanda Larião e Isabel Catarino.

CAPÍTULO III

I

PERPENDICULARES  E  OBLIQUAS

            93) Como vimos (16) duas rectas concorrentes ou secantes são aquelas que têm um único ponto comum (Figs. 115 e 116), isto é AC ∩ BD = 0.

            Duas rectas concorrentes são perpendiculares quando são iguais todos os ângulos por elas formados (Fig. 116); no caso contrário as rectas dizem-se oblíquas (Fig. 115).

Por favor habilite Java para uma construção interativa (com Cinderella).

            Para se afirmar que duas rectas são perpendiculares basta saber-se que dois ângulos adjacentes são iguais. Com efeito, nas condições anteriores, os outros dois ângulos também são iguais, por serem verticalmente opostos daqueles.

Por favor habilite Java para uma construção interativa (com Cinderella).

            É evidente que são rectos os ângulos formados por duas rectas perpendiculares, visto a sua soma ser igual a um ângulo giro (51).

            Conforme uma recta é oblíqua ou perpendicular a outra, assim se chama ao ponto de intersecção ou traço da oblíqua ou ou traço da perpendicular. Na Fig. 115 o ponto O é o pé da oblíqua BD em relação a AC ou de AC em relação a BD e na Fig. 116 o ponto O é o pé da perpendicular BD em relação a AC ou de Ac em relação a BD.

            94) A distância de um ponto a uma recta é o comprimento do segmento da perpendicular compreendido entre o ponto e a recta(1).

(1) Veremos no parágrafo 144, Cor. I e Cor II, que por um ponto só é possível fazer passar uma recta perpendicular a outra, e só uma.

            95) Um segmento de recta ou uma semi-recta dizem-se perpendiculares ou oblíquos em relação a uma recta, a uma semi-recta ou a um segmento de recta conforme as rectas que se obtêm prolongando os segmentos ou as semi-rectas são perpendiculares ou oblíquas.

            Para se designar que duas linhas são perpendiculares usa-se o sinal  ⊥. Teremos, assim BD⊥AC (Fig. 116), que se lê: «BD perpendicular a AC».

            96) Consideremos uma recta EF (Fig. 117) e um ponto A exterior; ao segmento AB da perpendicular tirada de A para EF, compreendido entre A e o pé da perpendicular, dá-se o nome de segmento da perpendicular ou simplesmente perpendicular traçada do ponto A para a recta EF. Qualquer outro segmento que una o ponto A com um ponto de EF chama-se segmento de oblíqua ou simplesmente oblíqua traçada do ponto A para a recta. Na Fig. 117, AC é uma oblíqua e C o seu pé ou traço.

            97) TEOREMAS : Se de um ponto exterior a uma recta se tirarem uma perpendicular e várias oblíquas:

            1.º – A perpendicular é menor que qualquer das oblíquas.

            2.º – Duas oblíquas cujos pés estão equidistantes do pé da perpendicular são iguais.

            3.º – De duas oblíquas é maior aquela que tiver o pé mais afastado do pé da perpendicular.

Demonstrações

            1.º – Sejam AB e AC, respectivamente, a perpendicular e a oblíqua tiradas do ponto A para a recta EF (Fig. 117).

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            Como (87) ∠ABF > ∠ACB e ∠ABF = ∠ABC, teremos (85-1ª) ∠ABC > ∠ACB 

e, portanto  (92), AC > AB.

 

            2.º – Sejam AC e AD duas oblíquas tiradas do ponto A para a recta EF, AB a perpendicular e CB=BD (Fig. 118).

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            Como (79, Cor.) Δ ABC = Δ ABD, conclui-se que (75-2ª) AC = AD.

            3.º – Sejam AC e AD duas oblíquas tiradas do ponto A para a recta EF, AB a perpendicular e CB > BD (Fig. 119).

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            Marque-se sobre EF um ponto G tal que GB = BD e trace-se o segmento AG.

            Será. Então,                   

AG = AD

e, portanto (80, Cor. I),          

∠b = ∠c

            Como (87)                   

∠b > ∠a

conclui-se que (85-1ª)            

∠c > ∠a

e, por consequência (92),       

AC > AD

           

            98) TEOREMAS RECÍPROCOS: Se de um ponto exterior a uma recta se tirarem vários segmentos para a recta:

           

            1.º – O menor dos segmentos que se pode traçar é o da perpendicular.

            2.º – Duas oblíquas iguais têm os pés equidistantes do pé da perpendicular.

            3.º – De duas oblíquas a maior é a que tem  o pé mais afastado do pé da perpendicular.

Demonstrações

            1.º – Seja AB o menor dos segmentos que se podem tirar do ponto A para a recta EF (Fig. 119). Se AB não fosse perpendicular a EF poder-se-ia tirar por A uma perpendicular a EF que seria menor que AB (97-1.º) o que é contra a hipótese.

            Então AB tem que ser perpendicular a EF.

            2.º – Sejam AC e AD duas oblíquas tiradas do ponto A para a recta EF, AB a perpendicular e AC = AD (Fig. 120).

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            Três casos se podem dar: CB > BD, CB < BD ou CB = BD (85-7.ª).

            Se fosse CB > BD seria AC > AD (97-3.º), o que é contra a hipótese.

            Se fosse CB < BD seria AC < AD (97-3.º), o que é contra a hipótese.

            Sendo ambas as conclusões anteriores absurdas, só poderá ser CB = BD.

            3.º – Demonstração para o estudante fazer, seguindo um caminho análogo ao da demonstração anterior.

EXERCÍCIOS   XVII

1) Se (Fig. 121)  AC ⊥ BD e AO > OC, demonstrar que AB + AD > BC + CD.

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2) Dado o Δ ABC, não rectângulo, seja AD ⊥ BC, sendo D um ponto existente em BC. Demonstrar que AD < AB e AD > AC.

3) Se (Fig. 122) CO ⊥ AE, OA = OE e AB = DE, demonstrar que OB = OD.

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4) Se (Fig. 122) CO ⊥ AE, OB = OD e AB = DE, demonstrar que OA = OE.

5) Se (Fig. 122) CO ⊥ AE, OB > OD e AB = DE, demonstrar que OA > OE.

6) Se (Fig. 122) CO ⊥ AE, OB = OD e AB > DE, demonstrar que AO > OE.

II

PERPENDICULAR  AO  MEIO  DE  UM  SEGMENTO

BISSECTRIZ  DE  UM  ÂNGULO

            99) TEOREMAS: Qualquer ponto equidistante dos extremos de um segmento existe na perpendicular ao meio do segmento (Fig. 123).

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            Hipótese:  Dado o segmento CD e o ponto A tal que AC = AD.

            Tese: O ponto A existe na perpendicular ao meio do segmento CD.

Demonstração

            Una-se o ponto A com o ponto B que divide ao meio o segmento CD.

Δ ABC = Δ ABD

visto que AC = AD, CB = BD e AB é comum.

            Será então (75-1.ª)

∠ ABC = ∠ ABD

ou, por serem suplementares os dois ângulos anteriores,

                                  

∠ ABC = 1 ∠ recto

e, portanto,

AB ⊥ CD.

           

Fica assim demonstrado que o ponto A existe na recta perpendicular ao meio do segmento CD. Para qualquer outro ponto, nas mesmas condições, chegava-se à mesma conclusão.

            COR. – Dois pontos, equidistantes dos extremos de um segmento de recta, definem a recta perpendicular ao meio desse segmento.

100) TEOREMA RECÍPROCO: Qualquer ponto de uma recta perpendicular ao meio de um segmento está equidistante dos extremos do segmento (Fig. 123).

            Hipótese: AB ⊥ CD  e CB = BD

            Tese:  AC = AD

Demonstração

            Tendo em vista o teorema do parágrafo 97-2.º, deduz-se que

                                                          

                                                           AC = AD.

101) A recta perpendicular ao meio de um segmento de recta tem o nome de eixo ou mediatriz.

            Atendendo aos dois teoremas anteriores, conclui-se que qualquer ponto da mediatriz de um segmento está equidistante dos seus extremos. Todos os pontos daquela recta gozam desta propriedade e só aqueles pontos é que estão equidistantes dos extremos do segmento.

102) Como o lugar geométrico de pontos é a figura cujos pontos, e só eles, satisfazem a uma certa condição, podemos, portanto, dizer que: A recta perpendicular ao meio de um segmento de recta é o lugar geométrico dos pontos do plano equidistantes dos extremos do segmento.

EXERCÍCIOS  XVIII

            1) Provar que o segmento de recta que une o vértice de um triângulo isósceles com o meio da base é perpendicular à base.

            2) Se a perpendicular ao meio do lado de um triângulo passa pelo vértice oposto, demonstrar que o triângulo é isósceles.

            3) Se (Fig. 124)  AB = AD e CB = CD, demonstrar que AC ⊥ BD.

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            4) Demonstrar que a recta que une os vértices de dois triângulos isósceles, com a mesma base, é perpendicular ao meio da base.

            103) TEOREMA: Dois triângulos rectângulos são iguais se têm a hipotenusa igual e um cateto igual (Fig. 125).

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            Hipótese: Dados o  Δ ABC  e o Δ MNP, em que AB = MN, BC = NP,  ∠ C = 1 ∠ recto  e ∠ OP = 1 ∠ recto.

            Tese:  Δ ABC = Δ MNP

Demonstração

            Desloque-se o  Δ MNP e sobreponha-se NP a BC ficando o ponto M para o lado oposto de A em relação à recta BC. Seja M’ a nova posição do ponto M.

            Como ∠ ABC = 1 ∠ recto e ∠ BCM’ = ∠ MPN = 1 ∠ recto, conclui-se que ∠ ACM’ = 1 ∠ raso.

            Então CA e CM’ são duas semi-rectas opostas formando por isso uma recta (20).

            Como

AB = MN  e  BM’ = MN,

            teremos

AB = BM’

            e, portanto (98-2.º)

AC = CM’

            Será, então (81),

Δ ABC = Δ BCM’

            ou (36)

Δ ABC = Δ MNP.

            104) TEOREMA: Qualquer ponto equidistante dos lados de um ângulo existe na bissectriz do ângulo (Fig. 126).

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            Hipótese: Dado o ∠ BCD, o ponto A,  AB ⊥ CB, AD ⊥ CD e BA = AD.

            Tese: O ponto A existe na bissectriz do ∠ BCD.

Demonstração

            Trace-se a semi-recta CA.

            Como AB = AD e CA é comum ao Δ ABC e ao Δ ADC, rectângulos, respectivamente, em B e D, conclui-se, pelo teorema anterior, que aqueles triângulos são iguais.

            Será então (75-1.ª)

∠ BCA = ∠ ACD

e, portanto, CA é bissectriz do ∠ BCD (44).

            Para qualquer outro ponto nas mesmas condições, chegava-se à mesma conclusão.

            105) Também se demonstra o:

            TEOREMA RECÍPROCO: Qualquer ponto da bissectriz de um ângulo está equidistante dos lados do ângulo.

            Atendendo aos dois teoremas anteriores, podemos afirmar que: A bissectriz de um ângulo é o lugar geométrico dos pontos do plano equidistantes dos lados do ângulo.

EXERCÍCIOS  XIX

            1) Demonstrar que o ponto médio da base de um triângulo isósceles está equidistante dos braços. (Sugestão: Unir aquele ponto com o vértice oposto à base).

            2) Se (Fig. 127) BO e CO são as bissectrizes dos ângulos externos do Δ ABC, respectivamente em B e C, demonstrar que o ponto O existe na bissectriz do  ∠ A.

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III

LINHAS  E  PONTOS  NOTÁVEIS  NO  PLANO  DO  TRIÂNGULO

            106) Eixo ou mediatriz de um triângulo é a recta perpendicular ao meio de qualquer dos seus lados. Na Fig. 128 estão representadas as três mediatrizes do Δ ABC.

            107) TEOREMA:  As mediatrizes de um triângulo encontram-se num ponto (Fig.128).

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            Hipótese: OD, EP e OF são mediatrizes, respectivamente, dos lados AB, BC e AC do Δ ABC.

            Tese:  EP passa pelo ponto O de intersecção de OD e OF.

Demonstração

            Tracem-se os segmentos AO, OB e OC.

Passos                                                        Justificação

1) AO = OB e AO = OC.                                 1) Porquê? (100).

2) OB = OC                                                      2) Porquê? (25).

3) O existe na mediatriz do lado BC.                  3) Porquê? (99).

4) EP passa pelo ponto O.                                 4) Porque, pelos dados, EP é a mediatriz do lado BC.

            COR. – O ponto de encontro das mediatrizes de um triângulo está equidistante dos vértices.

            108) Ao ponto de encontro das mediatrizes de um triângulo dá-se o nome de circuncentro ou centro da circunferência circunscrita.

            109) Bissectriz de um triângulo é a bissectriz de qualquer dos seus ângulos. Na Fig. 129 estão representadas as três bissectrizes do Δ ABC. 

            110) TEOREMA: As bissectrizes de um triângulo encontram-se num ponto (Fig. 129).

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            Hipótese:  AO, BO e CP são as bissectrizes dos ângulos do Δ ABC.

            Tese: CP passa pelo ponto O de intersecção de AO e de BO.

Demonstração

            Tracem-se os segmentos OD ⊥ AB, OE ⊥ BC  e  OF ⊥ AC.

Passos                                                       Justificação

1) OD = OE e OD = OF.                                 1) Porquê? (105).

2) OE = OF                                                      2) Porquê? (25).

3) O existe na Bissectriz do ∠ C.                       3) Porquê? (104).

4) CP passa pelo ponto O.                                4) Porque, pelos dados, CP é a bissectriz do ∠ C.

            COR. – O ponto de encontro das bissectrizes de um triângulo está equidistantes de todos os lados.

            111) Ao ponto de encontro das bissectrizes de um triângulo dá-se o nome de incentro ou centro da circunferência inscrita.

            112) Altura de um triângulo é o segmento da perpendicular baixada de um vértice sobre o lado oposto ou sobre o seu prolongamento. Na Fig. 130 estão representadas as três alturas do Δ ABC.

            113) Demonstra-se que:

            TEOREMA: As alturas de um triângulo ou os seus prolongamentos encontram-se num ponto (Fig. 130).

            114) Ao ponto de encontro das alturas de um triângulo ou dos seus prolongamentos chama-se ortocentro. Na Fig. 130 o ponto O é o ortocentro, sendo as alturas os segmentos AD, BE e CF.

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            115) Mediana de um triângulo é o segmento que une um vértice com o meio do lado oposto. Na Fig. 131 estão representadas as três medianas do Δ ABC.

            116) Também se demonstra que:

            TEOREMA: As medianas de um triângulo encontram-se num ponto cuja distância a qualquer vértice é 2/3 da mediana respectiva.

            117) Ao ponto de encontro das medianas de um triângulo dá-se o nome de baricentro ou centro de gravidade. Na Fig. 131 as medianas são os segmentos AD, BE e CF e O é o baricentro. Pelo teorema anterior conclui-se que:

            AO = 2/3.AD, OC = 2/3.CF  e  OB = 2/3.BE.

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EXERCÍCIOS  XX

            1) Onde fica situado o ortocentro de um triângulo: a) acutângulo?  b)  rectângulo?  c)  obtusângulo?

           

            2) Onde fica situado o incentro de um triângulo: a) acutângulo?  b)  rectângulo?  c)  obtusângulo?

           

            3) Onde fica situado o circuncentro de um triângulo: a) acutângulo?  b)  rectângulo?  c)  obtusângulo?

           

            4) A mediana AD do Δ ABC mede 12 cm. Qual é a distância do baricentro ao vértice A?

            5) A distância do baricentro de um triângulo equilátero a um dos vértices é 7 cm. Qual é a distância do baricentro a um dos lados?

            6) Demonstrar que coincidem o eixo, a altura e a mediana relativamente à base de um triângulo isósceles, assim como a bissectriz do ângulo oposto à base.

            7) Qual é o triângulo em que coincidem todos os segmentos notáveis correspondentes a cada lado?